quinta-feira, 18 de novembro de 2010

AMAR BONITO - Arthur da Távola

AMAR BONITO (por Arthur da Távola)

"Talvez seja tão simples, tolo e naturalque você nunca tenha parado para pensar:
aprenda a fazer bonito seu amor.
Ou fazer o seu amor ser ou ficarbonito.
Aprenda, apenas, a tão difícil
arte de amar bonito.
Gostar é tão fácil
que ninguém aceita aprender...
Tenho visto muito amor por aí.
Amores mesmo:bravios, gigantescos,
descomunais, profundos, sinceros,
cheios de entrega, doação e dádiva.
Mas esbarram na dificuldade de se tornar bonitos.
Apenas isso: bonitos, belos ou embelezados,
tratados com carinho, cuidado e atenção.
Amores levados com arte e ternura de mãos jardineiras.
Aí, esses amores que são verdadeiros,
eternos e descomunais, de repente se percebem ameaçados
e tão somente porque não sabem serbonitos:
cobram, exigem, rotinizam, descuidam, reclamam,
deixam decompreender, necessitam mais do que oferecem,
precisam mais do que atendem,
enchem-se de razões.
Sim, de razões.
Ter razão é o maior perigo no amor.
Quem tem razão sempre se sente no direito (e o tem) de reivindicar,
de exigir justiça, equidade, equiparação,
sem atinar que o que está sem razão
talvez passe por um momento de sua vida no qual não possa ter razão.
Nem queira!!!
Ter razão é um perigo: em geral, enfeia um amor,
pois é invocado comjustiça, mas na hora errada.
Amar bonito é saber a hora de ter razão.
Ponha a mão na consciência.
Você tem certeza de que está fazendo o seu amor bonito?
De que está tirando do gesto, da ação, da reação,
do olhar, da saudade, da alegria do encontro,
da dor do desencontro a maior beleza possível?
Talvez não.
Cheio ou cheia de razões,
você separa do amor apenas aquilo que
é exigido por suas partes necessitadas,
quando talvez dele devesse pouco esperar,
para valorizar melhor tudo de bom que
de vez em quando ele pode trazer.
Quem espera mais do que isso sofre e,
sofrendo, deixa de amar bonito.
Sofrendo, deixa deser alegre, igual, irmão, criança.
E sem soltar a criança, nenhum amor é bonito.
Não tema o romantismo.
Derrube as cercas da opinião alheia.
Faça coroas de margaridas e enfeite a cabeça de quem você ama.
Saia cantando e olhe alegre.
Recomenda-se: encabulamentos, ser pego em flagrante gostando,
não se cansar de olhar e olhar,
não atrapalhar a convivência com teorizações,
adiar sempre-- se possível com beijos -- 'aquela
conversa importante que precisamos ter',
arquivar, se possível, as reclamações pela pouca atenção recebida.
Para quem ama, toda atenção é sempre pouca.
Quem ama feio não sabe que pouca atenção
pode ser toda a atenção possível.
Quem ama bonito não gasta tempo dessa atenção
cobrando a que deixou de ter.
Não teorize sobre o amor (deixe isso para nós, pobres escritores
que vemos a vida como criança de nariz encostado na vitrine cheia
de brinquedos dos nossos sonhos);
não teorize sobre o amor, ame.
Siga o destinodos sentimentos aqui e agora.
Não tenha medo exatamente de tudo o que você teme,
como: a sinceridade, abrir o coração, contar a verdade
do tamanho do amor que sente;
não dar certo e depois vir a sofrer(sofrerá de qualquer jeito).
Jogue por altotodas as jogadas, estratagemas, golpes, espertezas,
atitudes sabiamente eficazes (não é sábio ser sabido):
seja apenas você no auge de sua emoção e carência,
exatamente aquele você que a vida impedede ser.
Seja você cantando desafinado, mas todas as manhãs.
Falando besteiras, mas criando sempre.
Gaguejando flores.
Sentindo o coração bater como no tempo de Natal infantil.
Revivendo os caminhos que intuiu em criança.
Sem medo de dizer eu quero, eu estou com vontade.
Deixe o seu amor ser a mais verdadeira expressão de tudo que você é.
Se o amor existe, seu conteúdo já é manifesto.
Não se preocupe mais com ele e suas definições.
Cuide agora da forma. Cuide da voz.
Cuide da fala. Cuide do cuidado. Cuide de você.
Ame-se o suficiente para ser capaz de gostar do amor
e só assim poder começar a tentar fazer o outro feliz."

(Arthur da Távola)

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