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segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Procura-se um AMIGO... Fernando Pessoa




Procura-se um amigo
“Procura-se um amigo: não precisa ser homem,
Basta ser humano, basta ter sentimentos,
Basta ter coração.
Precisa saber falar e calar; sobretudo saber ouvir.
Tem que gostar de poesia, de madrugada e de pássaros, do sol, da lua, dos cantos, dos ventos e das canções de brisa.
Deve ter um grande amor por alguém ou, então sentir falta de não ter esse amor.
Deve amar o próximo e respeitar a dor, que os passantes levam consigo,
Deve guardar segredo sem se sacrificar;
Não é preciso que seja de primeira mão, nem imprescindível que seja de segunda mão, pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados.
Não é preciso que seja puro nem que seja de todo impuro, mas não deve ser vulgar.
Deve ter um ideal e medo de perdê-lo.
E no caso de assim não sê-lo deve sentir o grande vazio que isso deixa.
Tem que ter ressonâncias humanas.
Seu principal objetivo deve ser o de amigo.
Deve sentir pena das pessoas tristes e compreender o imenso vazio dos solitários.
Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.
Procura-se um amigo: para gostar dos mesmos gostos; que se comova, quando chamado de amigo, que saiba conversar de coisas simples: de orvalho, de grandes chuvas, das recordações da infância.
Precisa-se de um amigo, para não enlouquecer; para contar o que viu de belo e triste durante o dia: dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade.
Deve gostar de ruas desertas, de poças d’água, de caminhos molhados, de beira de estrada, de matos depois da chuva, de se deitar no capim.
Precisa-se de um amigo: que diga que vale a pena viver. Não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo.
Precisa-se de um amigo: para se parar de chorar; para não viver debruçado no passado, em busca de memórias perdidas, que bata no ombro rindo e chorando, mas que o chame de amigo, para ter a consciência de que ainda vive.”
(Fernando Pessoa)